Tipologia Bíblica

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Tipologia Bíblica

TIPO, TIPOLOGIA.

Derivação da palavra grega que significa “forma" ou “padrão”, que nos tempos bíblicos indicava tanto o modelo original ou protótipo, quanto a cópia resultante. No NT, essa última era chamada o antítipo, e essa palavra era especialmente usada em dois sentidos: (1) a correspondência entre duas situações históricas tais como Adão e Cristo (Rm 5.14); (2) a correspondência entre o padrão celestial e seu equivalente terrestre, e.g., o original divino por trás da tenda/ tabernáculo terrestre (At 7.44; Hb 8.5; 9.24). Há várias categorias - pessoas (Adão, Melquisedeque), eventos (o dilúvio, a serpente de bronze), instituições (festas), lugares (Jerusalém, Sião), objetos (altar de holocaustos, incenso), ofícios (profeta, sacerdote, rei).

Além disso, podemos notar o uso paralelo de figuras de linguagem, juntamente com os tipos, para indicar um exemplo moral a ser seguido. Este último é uma parte importante da ênfase do NT na imitação do padrão divinamente ordenado, exemplificado primeiramente por Cristo (Jo 13.15; 1 Pe 2.21), depois pelo grupo dos apóstolos (Fp 3.17; 2 Ts 3.9), pelos líderes (1 Tm 4.12; Tt 2.7; 1 Pe 5.3) e pela própria comunidade (1 Ts 1.7). Todos os crentes, como tais, devem considerar-se modelos ou padrões da vida que se assemelha à de Cristo.

É importante fazer distinção entre tipos, símbolos e alegoriasO símbolo tem seu significado à parte do seu campo semântico normal, e vai além dele para representar um conceito abstrato, e.g., cruz = vida, fogo = julgamento. A alegoria é uma série de metáforas em que cada uma destas acrescenta um elemento para formar um quadro composto da mensagem, e.g., na alegoria do Bom Pastor (Jo 10) cada parte transmite algum significado. A tipologia, no entanto, lida com o princípio do cumprimento análogo. O símbolo tem uma correspondência abstrata, ao passo que um tipo é um evento ou pessoa real e histórica. Uma alegoria compara dois elementos distintos e envolve uma história ou um desenvolvimento prolongado de expressões figuradas, ao passo que um tipo é um paralelo entre duas entidades históricas; a alegoria é indireta e implícita, o tipo é direto e explícito. A tipologia bíblica, portanto, envolve uma correspondência analógica em que eventos, pessoas e lugares anteriores na história da salvação tornam-se padrões por meio dos quais eventos posteriores, pessoas, etc. são interpretados.

Seu Significado Hermenêutico. Tem-se reconhecido cada vez mais que a tipologia expressa a hermenêutica básica, e até mesmo a atitude ou perspectiva segundo a qual os escritores do AT e do NT entendiam a si mesmos e aos seus antecessores. Cada nova comunidade no desenvolvimento contínuo da história da salvação via-se analogicamente em termos do passado. Isto acontece dentro do AT, bem como no uso que o NT faz do AT. As duas fontes principais, é claro, foram a criação e o Êxodo. A tipologia da criação é vista especialmente em Romanos 5 e no paralelo entre Adão e Cristo, ao passo que a tipologia do Êxodo, ou a tipologia da aliança, predomina nos dois Testamentos. De modo positivo, o Êxodo estava por trás da linguagem figurada da redenção em Is 51-52, bem como nos conceitos salvíficos do NT (e.g., 1 Co 10.1-6). Negativamente, as peregrinações no deserto vieram a ser o modelo para a admoestação futura (e.g., SI 95.7-8; Hb 4.3-11).

Os pais da igreja combinavam a tipologia com a alegoria, e ligavam aquela com as verdades religiosas gerais expressadas em termos dos conceitos filosóficos gregos. Esse método continuou até à Reforma (com oposição periódica, tais como a da Escola de Antioquia no século IV, ou a dos vitorianos do século XII); os reformadores esposaram um sistema que entendia o AT literalmente, com uma hermenêutica cristológica, i.e., como profecia messiânica de Cristo. Durante o período crítico depois do século XVII, todo o conceito da promessa e do cumprimento foi menos valorizado, e o AT veio a ser experiência religiosa mais do que história. Nas décadas recentes, no entanto, a tipologia corretamente concebida voltou a ser uma ferramenta válida, baseada na perspectiva bíblica do padrão recorrente dos atos de Deus dentro da história, estabelecendo, assim, a continuidade entre as etapas da história da redenção.

O Debate Contemporâneo. O debate hoje diz respeito à possível distinção entre os tipos inatos e os inferidos. O tipo inato é explicitamente declarado como tal no NT; o tipo inferido não é explícito mas é estabelecido pelo tom geral do ensino do NT, e.g., a Epístola aos Hebreus, que emprega a tipologia como sua hermenêutica básica. Muitos teólogos negam o tipo inferido por causa do perigo da exegese fantasiosa que torce subjetivamente o texto.

Tanto o tipo como o antítipo devem basear-se em paralelos históricos genuínos ao invés de paralelos mitológicos intemporais. A tipologia não deve redefinir o significado do texto nem sugerir uma correspondência artificial, que não seja genuína. Tanto as passagens do AT como as do NT devem ser sujeitadas à exegese antes de se formular paralelos.

Além disso, devemos estudar as correspondências específicas bem como as diferenças entre o tipo e o antítipo. Nisso, a tipologia é semelhante às pesquisas das parábolas, precisando de uma consideração dos pormenores exegéticos das passagens do AT e do NT. De que maneira, por exemplo, a serpente de bronze foi um tipo da morte de Jesus em Jo 3.14-15? Os pormenores periféricos de Nm 21.4-9 faziam parte da tipologia? Sempre haverá uma única lição central, e os pormenores secundários devem ser observados com cuidado antes de serem aplicados à analogia. Notar as diferenças fornece um controle que evita uma interpretação demasiadamente imaginativa e alegórica do tipo.

É bom evitar dogmatizar os tipos. É difícil e extremamente subjetivo estabelecer uma doutrina baseada na tipologia. Até mesmo em Hebreus, a tipologia é utilizada mais para efeito ilustrativo do que para considerações dogmáticas. Portanto, somente quando a tipologia tem um propósito doutrinário direto é que devemos afirmá-la.

Finalmente, não devemos procurar tipos onde o texto não os justifica. Como no caso de todos os estudos exegéticos, queremos descobrir o significado deliberado do autor e não uma interpretação subjetiva generalizada. Conforme foi declarado acima, embora os escritores do NT indubitavelmente usassem tipologia que não está registrada no cânon, não possuímos aquela categoria revelatória suficiente para estender essa abordagem além do próprio texto. Os resultados alegóricos e subjetivos vistos em muitos sermões modernos são testemunhas eloquentes dos perigos. G. R. OSBORNE.

 

Fonte: Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã, Walter A. Elwell (Editor), Vida Nova, pp. 535, 536.

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