Para quem está de fora do cenário evangélico, todas as denominações são praticamente iguais, contudo, essa não é uma percepção acertada. É possível classificar o protestantismo brasileiro em pelo menos quatro grupos principais:
1. Os Tradicionais. Esse grupo que popularmente é chamado assim (em especial pelos pentecostais), é formado por denominações históricas (aquelas que possuem uma relação direta com a reforma protestante), como a Igreja Presbiteriana e a Luterana. Normalmente, essas igrejas confessam não crer na contemporaneidade dos dons , como o falar em línguas estranhas ou profetizar, pelo que também são rotuladas como "cessacionistas".
2. Os Pentecostais. Seguimento que ao contrário do primeiro grupo crê na vigência atual dos dons espirituais na sua totalidade. As igrejas pentecostais não somente creem na contemporaneidade dos dons, mas enfatizam a busca constante dos mesmos por parte dos crentes, considerando necessária à manifestação carismática, como evidência da Presença de Deus. Enquanto que no primeiro grupo (tradicionais) não é admitido qualquer manifestação do gênero no culto, nesse grupo um culto só é entendido como espiritual se as manifestações sobrenaturais acontecerem nele.
3. Os Renovados. Diferente dos dois primeiros grupos, os renovados normalmente seguem um caminho mais equilibrado. Enquanto os tradicionais negam a contemporaneidade dos dons os renovados afirmam com veemência a sua atualidade plena, sem contudo enfatizar tão acentuadamente como faz os pentecostais. Para os renovados, a centralidade do culto não repousa nas manifestações carismáticas, mas na Palavra de Deus, entendendo ser ela suficiente e necessária. Em resumo, os renovados creem na atualidade dos dons, pelo que suas manifestações são bem vindas no culto, entretanto a legitimidade espiritual do mesmo não está condicionada a elas.
Obs. Os três grupos acima citados, são considerados legitimamente evangélicos entre si, enquanto que o neopentecostalismo é rejeitado como grupo genuinamente evangélico pela maioria dos três. Por conta disso, passaremos a ponderar alguns pontos pelos quais ele não só se distingue dos três grupos anteriores que são considerados ortodoxos, como acaba por se tornar bastante estranho em relação a eles também.
4. Os Neopentecostais. Movimento carismático que surgiu em meados do século XX, tendo como ênfase a “teologia da prosperidade” e a batalha espiritual1, que na verdade é uma pseudoteologia. Esse movimento vem influenciando muitas denominações, até mesmo algumas consideradas históricas, que tem adotado determinadas práticas deste movimento. Segue seus principais erros doutrinários:
a) O sofrimento é resultante da falta de fé – Ensinam que qualquer sofrimento do cristão, seja na vida financeira, saúde ou em qualquer outra situação, é um resultado da falta de fé2. Contudo, a Bíblia nos mostra algo bem diferente, pois na mesma galeria dos “Heróis da Fé” (Hb 11), uns fizeram proezas pela fé, enquanto outros pela mesma fé sofreram com escárnios e açoites, e até cadeias e prisões; Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados, errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra; homens dos quais o mundo não era digno (vv 36-38).
b) Deus é obrigado a abençoar os crentes – Ensinam que os crentes devem reivindicar seus "direitos legais" em relação às bênçãos prometidas por Deus, sobretudo a saúde e a prosperidade3. Entretanto, a única coisa que o homem tem verdadeiramente por direito é a justa recompensa pelo pecado; a morte – Porque o salário do pecado é a morte... (Rm 6.23a). A vida e as bênçãos são presentes de Deus, que recebemos não pelos nossos méritos, mas pela sua indescritível bondade que se manifesta através da Sua maravilhosa graça – [...] mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6.23b). Além disso, reivindicar pode até ser uma atitude de filho; mas de um filho pródigo que sai da presença de seu Pai para satisfazer seus prazeres carnais (Lc 15.11-32). O filho que está na casa do Pai desfruta da Sua presença e de tudo o que lhe pertence, não tendo nenhuma razão para reivindicar. Essa doutrina é uma ofensa a Deus, pois só um pai negligente e irresponsável precisa ser lembrado do que precisa fazer pelos seus filhos.
c) O crente deve determinar sua benção – Para eles essa é uma atitude de fé, pelo que agir diferente constitui-se incredulidade. Contudo essa é uma doutrina diabólica, sugerida pelo diabo a Jesus: E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda (determina) que estas pedras se tornem em pães4. Entretanto a verdadeira conduta de fé não consiste em determinar que algo aconteça5, mas sim em clamar a Deus, aguardando pacientemente pelo agir do Senhor (2 Sm 22.7, Sl 3.4; 18.6; 30.2; 37.5; 40; 77.1).
d) Adotam práticas e elementos de outras religiões – É o chamado sincretismo religioso. É comum em uma igreja neo-pentecostal, além do visível retrocesso aos rudimentos veterotestamentários (usando objetos do judaísmo, Gl 4.9-11), a presença de práticas e elementos comuns em outras modalidades religiosas, como por exemplo: Sessão do descarrego (ideia do baixo espiritismo), novena da sagrada família (catolicismo), oração por fotos, peças de roupas e outros objetos (prática do baixo espiritismo também), além de outras práticas e crendices populares, como a de que alguém pode ser prejudicado por conta do "olho gordo" (inveja) de alguém. Tudo isso foi incorporado ao “culto cristão” (se é que dá pra chamar isso de culto), objetivando atrair pessoas das mais variadas convicções de fé e crendices folclóricas, que sentem-se atraídas por essas práticas já praticadas por elas. Contudo o evangelho deve permanecer puro, não podemos misturá-lo; nada pode justificar essas práticas, pois como questionou Paulo: Que comunhão tem a luz com as trevas (2 Co 6.14)? O Senhor ordena claramente na Bíblia Sagrada que não podemos tirar nem acrescentar qualquer coisa à Sua Palavra (Dt 4.2; 12.32, Pv 30.6, Ap 22.18, 19).
e) Distribuem elementos místicos – Alguns vendem, outros dão, mas no final das contas possui a mesma finalidade, que segundo eles é de estimular a fé das pessoas em Deus. Todavia isso constitui-se, um ato de idolatria evangélica, pois “os crentes” neopentecostais apenas trocaram as imagens dos santos católicos pelos mais variados objetos miraculosos (lenços, tijolos, miniatura da arca etc.). Duas coisas estão em questão: Primeira; se não acreditam que há qualquer fator miraculoso nos objetos, por que usá-los? Segunda, quem recebe um objeto ou elemento místico está crendo em Deus ou no que lhe foi dado? É obvio que o indivíduo que recebe o objeto ou elemento não está confiando em Deus somente, mas principalmente no objeto, do contrário não faria nenhum sentido recebê-lo. A Bíblia nos ensina a confiar inteiramente e exclusivamente no Senhor nosso Deus (2 Sm 22.31, Sl 20.7, Is 36.7; 42.17).
f) Atrelam o favor de Deus a ofertas estipuladas – É comum em igrejas neopentecostais a associação de ofertas à benção de Deus; você dá uma oferta e recebe o que está pedindo. Algumas distribuem envelopes para ofertas específicas (bronze, prata, ouro...), estabelecem valores, ou estimulam a entregar tudo o que tem, chamado de sacrifício6. Porem a oferta ensinada na Bíblia deve ser voluntária e com alegria, não por constrangimento (2 Co 9.7). Sem dúvida Deus sempre abençoa quem tem prazer em contribuir na Sua casa (2 Co 9.6, 8), contudo não devemos fazer isso esperando algo de volta, pelo contrário, se podemos ofertar é porque o Senhor já nos deu, já fomos abençoados, logo nossa oferta é apenas uma forma de agradecer a Deus reconhecendo Sua graça pela qual nos abençoou. Davi, o homem segundo o coração de Deus sabia disso pelo que falou:
“Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há, nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos, como chefe. E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder: e na tua mão está o engrandecer e dar força a tudo. Agora, pois, ó Deus nosso, graças te damos, e louvamos o nome da tua glória. Porque, quem sou eu, e quem é o meu povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas? Porque tudo vem de ti, e da tua mão to damos” (1 Cr 29.11-14).
Conclusão – Há várias outras práticas no mínimo estranhas praticadas por esse grupo, contudo seria quase impossível alistá-las aqui, pois não seguem um padrão, pelo que continuamente surge uma nova aberração.
1 Erickson, Millard J., Dicionário Popular de Teologia, pp. 134, 135, Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1ª edição, 2011.
2 Nichols, Larry A. e Mather, George A., Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, pp. 444, Editora Vida, 2ª impressão 2000, São Paulo, SP.
3 Ibid.
4 Ênfase do autor.
5 Se homem pudesse de fato determinar ele próprio seria Deus, o que sabemos ser um absurdo!
6 Pode ser visto nos meios de comunicação utilizados por eles.
Extraído do Manual de Batismo - O Mínimo que Precisamos Saber como Genuínos Cristãos, de Patrick Antonio Rosa.