As Razões para Metáforas
Há diversas razões para usarmos expressões metafóricas acerca de Deus.
Primeiro, as metáforas nos informam o que Deus pode fazer e não o que Ele é. Descrevem as suas habilidades e não os seus atributos. Portanto, Ele é como uma torre forte ou escudo que nos protege, ou Ele tem asas sobre as quais pode nos levar, etc.
Segundo, as metáforas comunicam o que Deus é de modo indireto e não literal. A verdade é que o não-literal depende do literal. Sabemos que Deus não é literalmente uma rocha, visto que sabemos que Ele é literalmente um Espírito infinito, e uma rocha não pode ser infinita nem espírito. Mas assim que sabemos que Deus não é literalmente uma rocha, a metáfora nos diz o que Ele é literalmente, ou seja, estável e imóvel.
Terceiro, as metáforas (símiles e outras figuras de linguagem) são evocativas, embora não sejam literalmente descritivas, ou seja, elas não descrevem literal e diretamente Deus. Mesmo assim, elas evocam uma resposta para Ele (ao passo que as descrições metafísicas quase sempre não evocam). Por conseguinte, a Bíblia contém metáforas, porque Deus quer uma resposta de nós. Por exemplo, compare o poder evocativo de uma declaração metafórica versus um a declaração metafísica sobre Deus:
• Declaração metafísica: Deus é a Causa não-causada de nosso ser.
• Declaração metafórica: “Por baixo de ti estejam os braços eternos” (D t 33.27).
• Declaração metafísica: Deus é onipotente.
• Declaração metafórica: “Porque quem é semelhante a mim? E quem me emprazaria? E quem é o pastor que subsistiria perante mim?” (Jr 49.19).
• Declaração metafísica: Deus é onisciente.
• Declaração metafórica: “Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13).
Os Vários Tipos de Descrições Metafóricas sobre Deus
Além das figuras de linguagem, a Bíblia emprega três tipos básicos de declarações metafóricas sobre Deus. Em primeiro lugar, há antropomorfismos que descrevem Deus em forma humana, como tendo olhos (por exemplo, Hb 4.13), ouvidos (2 Cr 6.40) e braço (D t 5.15). Depois, há antropopatismos que descrevem Deus tendo sentimentos humanos variáveis, como ira e tristeza (Ef 4.30). Por fim, há antropoieses que atribuem a Deus ações humanas como arrepender-se (G n 6.6) e esquecer-se (Is 43.25). Nenhuma destas descrições tem a intenção de ser literalmente verdadeira, e considerá-las assim pode conduzir a erro sério.
O Perigo das Descrições Metafóricas sobre Deus
As metáforas são poderosas, mas também podem ser prejudiciais. Se forem consideradas literalmente, podem conduzir a erro grave e até heresia. A lista apresentada a seguir é uma amostra do que pode acontecer se as metáforas não forem devidamente entendidas e assim, acabarem consideradas literalmente:
• “O Senhor arrependeu-se” (Ex 32.14). Pode levar à negação da imutabilidade de Deus.
• “Aos olhos daquele” (Hb 4.13). Pode levar à negação da imaterialidade de Deus.
• “Ele é a Rocha” (Dt 32.4). Pode levar à negação da infinitude de Deus.
• “A quem [Deus] de antemão conheceu” (Rm 11.2, ARA). Pode levar à negação da eternidade de Deus.
• “O Senhor se indignou” (1 Rs 11.9). Pode levar à negação da impassibilidade de Deus.
• “Desceu o Senhor para ver” (Gn 11.5). Pode levar à negação da onisciência de Deus.
CONCLUSÃO
Como estabelecemos anteriormente, nada é mais importante do que aquilo que pensamos sobre Deus. As características — encontradas nas criaturas — , que atribuímos a Ele, devem ser primeiramente purificadas de toda imperfeição ou limitação para depois serem aplicadas ao Eterno de modo ilimitado. Todo termo que perde o seu significado quando privado da sua finitude não pode ser aplicado literalmente a Deus, mas só metaforicamente. Considerar literalmente as descrições metafóricas sobre Deus conduz a opiniões heréticas sobre Ele. Nada menos que o verdadeiro Deus pode trazer satisfação última ou espiritualidade completa em nossa vida. Por conseguinte, o estudo do verdadeiro Deus e dos seus atributos é o empenho mais importante que a mente finita pode entreter. Este é o projeto deste volume.
Fonte: Teologia Sistemática, Norman Geisler, CPAD, vol. 1, pp. 567-569.