Creio que alguns conceitos ético-filosóficos precisam ser citados antes de tratarmos do tema propriamente dito. Primeiro o Pragmatismo; movimento associado a Charles S. Peirce, William James e John Dewey; iniciado no final do século XIX exercendo influência na primeira metade do século XX, especialmente nos Estados Unidos; enfatizando que o significado ou verdade de qualquer proposição é seu efeito prático1.
Etimologicamente, pragmatismo provem do termo grego prágma, que significa coisa, fato ou matéria; sendo que sua forma verbal prassein, significa realizar2. No pragmatismo, não há nenhum sistema fixo de valores, pois ele é totalmente relativista3. A postura ética do pragmatismo é que, uma atitude só pode ser considerada boa se a mesma atingir o resultado esperado. Não importa o que será feito para se alcançar o objetivo, importa apenas que o alcance. Por conta disso alguns apontam Nicolau Maquiavel como sendo o pai do pragmatismo, pois sua premissa era justamente a de que os fins justificam os meios4. Portanto, para o pragmatismo agir bem é agir da forma que lhe permita conseguir seus objetivos, mesmo que pra isso tenha que se mentir, roubar, trapacear etc..
Em segundo lugar, podemos citar o utilitarismo, que possui uma ligeira diferença do primeiro conceito ético, no que diz respeito ao número de pessoas envolvidas com o resultado. Enquanto no pragmatismo a premissa é atingir “meu objetivo” custe o que custar, no utilitarismo a máxima é promover a felicidade do maior número de pessoas possível; no pragmatismo o indivíduo está comprometido somente consigo mesmo, já no utilitarismo está subordinado aos interesses da sociedade5. No primeiro pensa-se apenas em si mesmo, no segundo na maioria. Diria que o utilitarismo é uma forma de pragmatismo solidário, não pensando em si mesmo apenas. Todavia permanece a premissa de que uma ação é boa quando atinge a meta estabelecida, com a pequena diferença de que essa meta não envolve particularmente a mim apenas, mas o maior número de pessoas possível.
Em terceiro lugar, consideraremos a Deontologia Kantiana. A palavra deontologia é derivada do grego deon, que significa necessidade, obrigação6. Na filosofia moral contemporânea, é uma das teorias normativas segundo a qual as escolhas são moralmente necessárias; proibidas ou permitidas, sendo que esse termo foi introduzido em 1834 por Jeremy Bentham, conhecida também como Teoria do Dever7. A ética deontológica ignora os resultados obtidos quando analisa a qualidade boa ou má8. O que está em jogo não é o resultado, mas o ato em si, ou mais do que isso; o que motivou o ato. Kant defendeu uma ética deontológica quando apresentou seu Imperativo Categórigo, onde o dever ocupa a posição primária, sem se importar com as conseqüências, pois nele deve-se fazer somente aquilo que você quer que seja uma lei universal; sendo que, esta lei é um padrão da mente e não um produto da experiência como no utilitarismo9.
Por último temos a Ética Cristã. Esse conceito toma como premissa absoluta os ensinamentos cristãos revelados na Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus10. Na ética cristã também não se considera os resultados em si mesmos, porem as regras não provem da mera reflexão interpessoal e subjetiva, mas são exclusivamente extraídas da revelação bíblica que deve pautar a conduta universal. Logo, de acordo com a Ética Cristã, uma ação boa é aquela realizada em conformidade com a Revelação Infalível de Deus - a Bíblia Sagrada!
1 ERICKSON, Millard J., Dicionário Popular de Teologia, p. 156, Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1ª edição, 2011.
2 CHAMPLIN, R. N., Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia v. 5, p. 352, editora Hagnos, São Paulo, SP, 11ª edição, 2013.
3 Ibid.
4 MARTINS, Carlos Estevam, Os Pensadores, Maquiavel, p. 22, Editora Nova Cultural, São Paulo, SP, 1999.
5 CHAMPLIN, R. N., Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia v. 2, p. 564, editora Hagnos, São Paulo, SP, 11ª edição, 2013.
6 Ibid., p. 55.
7 Deontologia, Disponível em: https://googleweblight.com/?lite_url=https. Acesso em: 18 de ago. de 2016.
8 CHAMPLIN, R. N., Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia v. 2, pp. 55, 56, editora Hagnos, São Paulo, SP, 11ª edição, 2013.
9 Ibid., p. 565.
10 ERICKSON, Millard J., Dicionário Popular de Teologia, p. 72, Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1ª edição, 2011.
Extraído do livro "O Aborto à Luz da Ética Cristã" - Uma discussão filosófico-teológica acerca do assunto, de Patrick Antonio Rosa.