Isaías 46.10
[...] “o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade”.
Salmos 33.10,11
“O Senhor desfaz o conselho das nações; quebranta os intentos dos povos. O Conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do Seu coração, de geração em geração”.
Começamos por um dos atributos de Deus mais esquecido, mal entendido, e até mesmo negado da atualidade. Portanto é sumamente importante definirmos esse atributo antes mesmo de discorrermos sobre ele.
De acordo com Louis Berkhof, a Soberania de Deus está relacionada não somente à Sua vontade, mas também à Sua onipotência¹. No entanto, soberania e onipotência podem e devem ser diferenciadas.
A soberania, fala da livre agencia de Deus, onde Ele não pode ser influenciado por nenhum fator alheio, nem um ser, nenhuma criatura, mas apenas é guiado pela Sua própria vontade, de forma única e exclusiva, sem depender de nada e nem de ninguém.
Já a onipotência, aponta para o poder absoluto e ilimitado de Deus pelo qual Ele pode efetuar todo o Seu querer. Entretanto o querer sem o poder não passaria de um sonho, mas o querer associado ao poder resulta em realidade! Deste modo, a soberania só é soberania porque a onipotência lhe permite executar.
O Dr. Norman Geisler, definiu a soberania de Deus como sendo o Seu governo absoluto sobre toda a criação, Seu direito de controlar como lhe apraz todas as coisas², (Isaías 55.11).
Diferente do que advogam os defensores do deísmo, Deus não criou o mundo e deixou seguir seu próprio curso a mercê do acaso, ficando alheio ao seu futuro. Deus não só criou todas as coisas como também está controlando cada milésimo de segundo de toda história, pois Ele criou tudo para um determinado fim.
A palavra de Deus assevera que Ele criou todas as coisas:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra”, (Gn 1.1).
“Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”, (Jo 1.3). “Porque n’Ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, seja potestades; tudo foi criado por Ele”, (Cl 1.16).
De fato quem cria é por direito proprietário do que elaborou a partir do nada (hb “bara”), como em (Gn 1.1). Por isso Davi afirmou:
“Do Senhor é a terra e a Sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”, (Sl 24.1).
O próprio Deus reivindicou:
“Meu é todo animal da selva e as alimárias sobre milhares de montanhas” (Sl 50.10).
Paulo chamou a atenção dos irmãos de Corinto dizendo:
“Não sois de vós mesmos” (1 Co 6.19).
O criador e proprietário, têm o direito de dar e tomar a vida:
“Vede, agora, que Eu o sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de Mim; Eu mato e Eu faço viver; Eu firo e Eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão” (Dt 32.39).
Ana em seu cântico se rendeu diante da soberania do seu Deus concordando e confessando as palavras de Javé:
“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo” (1 Sm 2.6-8).
Isaías usou a figura de um oleiro dando forma à Sua obra, segundo o desejo do seu coração, para expressar a soberania de Deus sobre nossas vidas:
“Mas agora, ó Senhor, Tu és nosso Pai, nós somos o barro, e Tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das Tuas mãos” (Is 64.8).
Certamente Paulo entendeu bem essa verdade ensinada por Isaías, e lançou a seguinte pergunta:
“[...] Pois quem jamais resistiu à Sua vontade”? (Rm 9.19b), e ainda acrescentou: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra”? (Rm 9.20,21).
Aleluia, Esse é o Deus das Escrituras! O deus fabricado pelo coração dos pregadores da prosperidade triunfalista, imediatista e materialista, está muito distante de se comparar a esse Deus, pois o deus deles pode ser coagido, manipulado, é passível de ser chantageado por reivindicações do tipo: “Eu não aceito! Sou filho do rei, por isso sou príncipe, e se sou príncipe sou herdeiro, e quero minha herança”!
Esse deus imaginário pode ser colocado na parede, como sugerem os tais pregadores. Na verdade, esse deus não faz tudo o que lhe apraz, mas faz tudo o que apraz ao homem, e não é de se admirar, pois como já vimos antes, o criador tem domínio sobre a criatura. Então esse deus tem que obedecer ao homem que o criou. Mas como vimos, o Deus das Escrituras excede em excelência, pois tudo criou, tudo formou, por isso não recebe ordem de homem algum, pois este nada mais é do que obra das suas mãos. Ele faz tudo o que lhe apraz, sempre como lhe apraz.
Jó declarou essa verdade e o salmista reforçou:
“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos Teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2); “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada” (Sl 115.3).
Como é bom saber que o Deus verdadeiro revelado nas escrituras é soberano, pois cada lágrima que derramamos, seja de alegria, de tristeza ou de dor, está debaixo do Seu controle Soberano!
Quando conhecemos o Deus das Escrituras, o Deus com “D” maiúsculo, podemos descansar mesmo na tormenta, pois nada foge ao Seu controle, Ele levanta a tempestade e ordena parar, como observou o salmista:
“Pois Ele falou e fez levantar o vento tempestuoso, que elevou as ondas do mar. Então na sua angustia, clamaram ao Senhor, e Ele os livrou das suas tribulações. Fez cessar a tormenta, e as ondas se acalmaram” (Sl 107. 25, 28, 29).
José não só coadunava com essa verdade como nela descansava, sabendo que o soberano Deus controla os incontroláveis momentos das nossa vida, por isso disse:
“Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; Deus me enviou adiante vós mesmos” (Gn 45.5).
José sabia que tudo que Deus faz ou permite possui um propósito pré-determinado:
“Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento” (Gn 45.7).
Como é bom saber que ninguém pode frustrar os desígnios do soberano Senhor, pois até os maus pensamentos e ações malignas de nossos inimigos são convertidas em bênçãos ao nosso favor!
“Vós, na verdade, intentaste o mal contra mim; porem Deus o tornou em bem, para fazer, como vede agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.20).
Este é o Deus das escrituras, não o deus frustrado dos pregadores da prosperidade, ninguém pode impedir os feitos do Deus da Bíblia, tudo Ele fez e faz como lhe apraz!
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¹ Berkhof, Louis, Teologia Sistemática, Cap. VII pág. 76, Editora Cultura Cristã, 3ª edição revisada, São Paulo, São Paulo, 2007.
² Geisler, Norman, Teologia Sistemática vol. 1, Cap. XXIII pág. 1017, CPAD, 1ª edição, Rio de Janeiro, Rj, Brasil, 2010.
Extraído do livro "O Deus das Escrituras", de Patrick Antonio Rosa (2ª Edição).