A Imensidão e a Onipresença de Deus

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A Imensidão e a Onipresença de Deus

 

Sl 139.7-10

“Para onde me irei do Teu Espírito ou para onde fugirei da Tua face? Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá”.

 

Jr 23.23,24 

“Porventura, não encho Eu os céus e a terra? – diz o Senhor”.

 

As doutrinas da imensidade e da onipresença de Deus sempre estiveram presentes em todos os períodos da igreja cristã, como verdade bíblica e teológica. No entanto, isso não significa que todos os cristãos possuíam uma plena compreensão, pois mesmo nos dias de Jesus nem todos os judeus, ou talvez bem poucos compreendiam essas verdades.

Norman Geisler faz uma citação a J. I. Packer, que observou sobre este assunto:

“Deus é Espírito”. Quando nosso Senhor disse isso, Ele procurava fazer a samaritana abandonar a ideia de que havia apenas um lugar adequado para a adoração, como se Deus estivesse confinado de algum modo a algum lugar. “Espírito” contrasta com a “carne”. A ideia central de Cristo era que o homem, sendo “carne”, só pode estar presente em um lugar de cada vez. Deus, porem sendo “Espírito”, não está assim limitado. Deus não é material, não tem corpo, portanto, não fica confinado a um lugar1.

Mesmo no contexto da igreja contemporânea, esse assunto continua sendo relevante, visto que tal verdade tem sido enfraquecida a partir de certos ensinos sustentados por alguns.

Na verdade, é a elevação de uma antiga corrente ideológica chamada de deísmo finito, que argumenta que Deus não é infinito, mas sim limitado na Sua natureza e poder. Essa forma de pensar tem ocupado a mente dos defensores da teologia do processo, e às vezes até mesmo de líderes de igrejas conservadoras. Por isso, tenho por objetivo, reafirmar e enfatizar essa perene verdade nesta obra. Contudo antes de entrarmos no assunto propriamente dito, com o fim de prová-lo, é preciso defini-lo.

Louis Berkhof diz que em certo sentido os termos “imensidade” e “onipresença” podem ser considerados congêneres, no entanto deve-se observar que há um determinado ponto fazendo a devida distinção. Berkhof ressalta que a imensidade de Deus, relaciona-se com a Sua transcendência, ou seja, aponta para o fato d’Ele estar infinitamente acima de todo espaço, não estando sujeito às suas limitações. A onipresença de Deus, denota que Ele preenche todas as partes do espaço com todo o Seu ser2.

Dizer que o Deus das Escrituras é imenso e onipresente, é o mesmo que afirmar que Ele está em todo espaço, e em tudo o que há no espaço, sendo superior a ambos.

Essa verdade mal interpretada pode gerar dois grandes problemas:

1º Deus é transcendente, mas não imanente – Este conceito é sustentado pelo deísmo, que concorda com o teísmo dizendo que Deus é superior ao universo estando de forma infinita acima dele, porem nega que Deus tenha qualquer relação interventiva com o mesmo. Desta forma negam a onipresença de Deus que por sua vez está ligada à Sua imanência, ou seja, a Sua presença em tudo e todos.

Os defensores desta corrente ideológica, argumentam que Deus deu cordas na criação, como se faz com um relógio, e desde então o mundo segue o seu próprio rumo.

Em resumo, a partir da negação da imanência de Deus segue-se também a negação da providência divina, doutrina que defende que Deus é o sustentador absoluto de todo o universo.

2º Deus é imanente, mas não transcendente – Este é o conceito sustentado pelos panteístas, pois para eles não existe um criador além do universo. O panteísmo argumenta que Deus é o próprio universo, e o universo é Deus. Em resumo, “Deus é tudo e tudo é Deus”. Assim, negam que Deus seja superior a Sua criação.

Os dois segmentos citados incorrem no mesmo erro comum, o de enfatizar demasiadamente uma verdade em detrimento de outra, o que resulta numa heresia.

O primeiro ressalta em demasia a transcendência, aniquilando a providência divina, enquanto que o segundo enfatiza demais a imanência excluindo a transcendência e reduzindo Deus ao universo que Ele mesmo criou.

No entanto a verdade bíblica é que o Deus que se revela nas escrituras é tanto transcendente (imensidade) quanto onipresente (imanente).

O nosso Deus é o único capaz de estar em todos os lugares, seres e matérias ao mesmo tempo. Charles Hodge comentou sobre o assunto dizendo:

Os teólogos estão acostumados a distinguir os três modos da presença no espaço. Os corpos estão circunscritivamente no espaço. Eles estão limitados por ele. Os espíritos estão definitivamente no espaço. Eles tem um lugar. Eles não estão em todos os lugares, mas só em algum lugar. Deus está repletivamente no espaço. Ele enche todo o espaço. Em outras palavras, as limitações de espaço não tem referência a Ele. Deus não está ausente de qualquer porção do espaço, nem mais presente em determinada porção que outra3.

Essa verdade traz consigo duas implicações inerentes, sendo uma para o ímpio e outra para o salvo em Cristo:

1º Indubitavelmente, esta perfeição divina é perturbadora ao ímpio que busca se distanciar de Deus, para viver de forma contrária à Sua vontade:

[...] “para onde fugirei da Tua face? [...] se subir ao céu, Tu aí estás; se fizer no sheol a minha cama, eis que Tu ali estás também” [...] (Sl 139.7b, 8).

Que tormento para o ímpio saber que cada um de seus passos tortuosos não podem ser ocultados aos olhos do Senhor, pois Ele está em todos os lugares, ainda que seja o mais sombrio! Todos os seus atos e palavras reprováveis serão denunciados e testemunhados pelo próprio Deus que irá deferir a sentença no dia do juízo.

Como o ímpio gostaria que o Deus das escrituras fosse como o deus da imaginação humana, que não passa de uma imagem que pode ser carregada, e está limitada a ocupar um pequeno espaço em dado lugar.

Assim seria fácil, daria para fugir da presença de Deus, daria até para deixá-lo trancado em casa ou num templo pagão, para que seus atos errantes fossem consumados distante da presença de seu deus.

Mas para a tristeza dos ímpios, o Deus das escrituras nada tem a ver com esse deus da imaginação humana, Ele é onipresente e imanente, está em tudo e todos repletivamente, e não haverá como dizer algo contrário às palavras do Altíssimo no dia do juízo final, pois Ele dirá: “Eu estava lá”!

2º No entanto, ao passo que essa perene verdade atormenta o ímpio, tal conhecimento representa um Oasis para o salvo, trazendo alento, refrigerando a alma do justificado por Cristo. Pois como é bom saber que nunca estaremos sós, Jesus não nos enganou quando prometeu solenemente dizendo:

“Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20).

Saber que o nosso Deus está conosco todos os dias, em todos os momentos, em todos os lugares, nos traz uma grande segurança, nos impulsionando e encorajando a continuar a caminhada. Sem dúvida, essa foi à razão do salmista dizer que “ainda que passasse pelo vale da sombra da morte não temeria mal algum, porque o Senhor, o Deus das escrituras estava com ele”, (Sl 23.4).

Por esta razão, Davi, escritor do Salmo 23, ainda enfatizou no salmo 139: “Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá” (vv9,10).

Muitas vezes, ouvimos jargões que dizem que tem crente que a sua oração não passa do teto, por não orarem em voz alta, com isso servos de Deus humildes, fiéis e sinceros são constrangidos, ficando entristecidos por conta da sua forma de orar.

O que esses ignóbeis pregadores não sabem, é que a nossa oração não precisa sequer chegar ao teto, muito menos passar dele. O Deus das escrituras está em todo lugar, e mais do que isso, está em nós também, por isso conhece tudo o que fazemos e o que pensamos, pois é onisciente.

Portanto querido leitor, se você já se sentiu, sente-se, ou vier a se sentir sozinho, lembre-se, ainda que você quisesse seria impossível se ausentar da presença do Senhor.

Aquela velha e conhecida ilustração intitulada “Pegadas na Areia” resume bem essa verdade. Portanto se no decorrer da caminhada olhares e veres somente as marcas de uma pegada, saiba que o Senhor não te deixou só, mas Ele te tomou em Seus braços para carregá-lo!

O próprio Senhor questionou:

“Sou Eu apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe” (Jr 23.23)?

Nas palavras de Mattew Henry: 

“o Deus de Israel, o Salvador, é por vezes, um Deus que se esconde, mas nunca um Deus que se ausenta. Pode estar nas sombras, mas nunca está distante4”.

Aleluia! O nosso Deus é Deus presente em todos os lugares e momentos em nossas vidas!

Glória a Deus!

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1Geisler, Norman, Teologia Sistemática vol. 1, Cap. VII pág. 699, CPAD, 1 edição, Rio de Janeiro, Rj, Brasil, 2010.

2Berkhof, Louis, Teologia Sistemática Cap. VI pág. 60, Cultura Cristã, 3ª edição Revisada, São Paulo, SP, 2007.

3Geisler, Norman, Teologia Sistemática vol. 1, Cap. VII pág. 698, CPAD, 1ª edição, Rio de Janeiro, Rj, Brasil, 2010.

4Citado por Wiersbe, Warren W., Comentário Bíblico Expositivo, vol. III, pág. 49, Geográfica, 1ª edição, 6ª reimpressão, Santo André, SP, Brasil, 2012.


Extraído do livro "O Deus das Escrituras", de Patrick Antonio Rosa (2ª Edição).